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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

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Olá colegas!

Venho compartilhar com vcs mais uma vitória em nossa profissão!

Em março as surdas Larissa e Emiliana apresentaram suas dissertações de mestrado na Universidade Federal da Bahia - UFBA. Cada uma delas convidou os intérpretes com os quais tinham mais proximidade e eu estava nesta lista. Quando aceitei interpretar, desta vez, nem pensei na remuneração, mas sim no marco histórico das primeiras surdas a mestrarem neste estado e muito feliz aceitei.

Mas, aqui na Bahia temos um "anjo" chamado Omar Barbosa que com o consentimento das surdas começou um árduo processo para que o nosso trabalho de interpretação fosse reconhecido. E agora 6 meses após o fato recebemos o devido soldo pelo trabalho prestado, é uma grande vitória!!!

Pedi para Omar descrever o processo que percorremos para obtenção da remuneração, pois caso algum de vcs venha a passar por situação semelhante já saberá como proceder.

Segue abaixo,
Abs
Thalita



Salvador, 21 de outubro de 2009

A quem possa interessar, Pessoas Surdas, Tradutores-Intérpretes de LIBRAS, pesquisadores,

As alunas surdas do Programa de Pós-Graduação (PPGE) da Faculdade de Educação (FACED) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Larissa Silva Rebouças e Emiliana Faria Rosa, solicitaram a remuneração dos TILS providenciados pela FACED, após as apresentações de suas dissertações de mestrado nos dias 26 e 27 de março de 2009, respectivamente, tal como determina o decreto 5.626/05 sobre o uso da LIBRAS em instituições de ensino públicas e privadas.

As mestrandas surdas encaminharam o pedido com apoio do revisor e consultor metodológico de suas dissertações, o pesquisador Omar Barbosa Azevedo, que intermediou acompanhou o encaminhamento destas solicitações junto às secretárias do PPGE da FACED-UFBA.

Em tempo, vale ressaltar que os pedidos foram feitos a posteriori das apresentações, devido às inúmeras revisões realizadas pelas mestrandas para ajustar seus textos às exigências acadêmicas da pós-graduação.

O pedido de pagamento aos quatro TILS que atuaram nas defesas de Mestrado de Larissa e Emiliana, foi encaminhado pelo PPGE da FACED, à Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG) da UFBA, que procedeu os respectivos pagamentos às pessoas físicas dos TILS, como prestadores de serviço.

Os TILS tiveram que preencher formulários de "Proposta de prestação de serviços", e o PPGE da FACED, efetivou os cálculos e preencheu posteriormente, os formulários de "Fatura da prestação de serviços" com base nos dados informados na proposta.

A "proposta" foi apresentada juntamente com quatro orçamentos independentes, anexados pelas alunas surdas solicitantes do pedido de pagamento dos TILS, plenamente justificado, uma vez que o trabalho destes profissionais assegurarou a acessibilidade comunicativas a todos os presentes nas defesas. A anexação destes orçamentos independentes de prestação de serviços, recolhidos junto a outros TILS e Instituições, foi uma condição exigida pela PRPPG-UFBA para a aprovação da solicitação das mestrandas surdas.

Devido aos requisitos da UFBA para efetivar os pagamento solicitados a posteriori das defesas, os mesmos só puderam ser consumados 6 meses após o protocolo das solicitações.

Por este motivo, vale a pena salientar que com o aprendizado desta experiência, nas próximas defesas de dissertações e teses, especialmente em instituições públicas de ensino, o pedido de atuação e remuneração de TILS deve ser feito com a devida antecedência. As universidades públicas dispõem de formas mais hábeis de tramitação das referidas solicitações, bem como de remuneração dos TILS.

A solicitação de serviços de TILS é procedimento corriqueiro em diversas instituições públicas, com alguma frequencia em âmbitos do poder judiciário, e além de envolver a LIBRAS, ocosionalmente, envolve outras línguas estrangeiras. As universidades públicas devem seguir o mesmo procedimento, tal como estipulado pelo decreto 5.626/2005 que regulamenta o uso da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) nos contextos da educação e da saúde.

Em tempo, o pedido normalmente deve ser feito pela parte interessada, no caso, a pessoa surda, que como cidadã brasileira, deve protocolar sua solicitação junto ao órgão público competente. Outrossim, pelo fato de que não apenas a pessoa surda solicitante se beneficia da TILS, mas também as pessoas ouvintes envolvidas neste procedimento de bem comum, nada impede que a solicitação de TILS seja feita por autoridades ou familiares implicadas em circunstâncias oficiais que envolvem a participação de pessoas surdas usuárias da LIBRAS.

Sem mais a acrescentar e estimando o avanço destes procedimentos para Surdos e TILS, despeço-me,

Atenciosamente,


Omar Barbosa Azevedo

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Novas a favor da Escola de Surdos

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Recebi esse e-mail recentemente e por um lado me alegro em saber que uma pesquisa comprovou que as pessoas surdas tem melhor desenvolvimento escolar em escolas de surdos que em escolas regulares. Porém por outro lado me entristeço em saber que a política de inclusão tem ganhado força e mais escolas de surdos pelo Brasil tem sido fechadas... não parece uma antítese??

Segue o texto:


Prezados colegas,
As escolas públicas para surdos vêm sendo desativadas em todo o país, com enormes prejuízos para as crianças surdas, em especial aquelas cujas famílias não podem pagar por educação especializada.
Como as escolas comuns estão despreparadas para receber e educar essas crianças, elas tendem a fracassar de modo muito alarmante. Pesquisamos o desempenho de 8000 surdos de 15 estados brasileiros e descobrimos que eles aprendem melhor em escolas de surdos, as mesmas que vêm sendo fechadas. Se isso continuar, o futuro não será nada promissor para elas. Segue artigo sobre isso que acaba de ser publicado na Revista Patio, ano XIII, maio-julho 2009, número 50, pp, 24-25. Intitula-se: Avaliação escolar e políticas públicas de Educação para os alunos não ouvintes. A pesquisa rigorosa mostra que, enquanto as crianças com deficiência auditiva aprendem melhor sob inclusão em escolas comuns, as crianças surdas aprendem muito melhor em escolas para surdos, em que a comunicação e o ensino se dão na língua mais apropriada para elas.
Eu agradeceria muito se você pudesse ajudar a divulgar este fato a seus colegas educadores e a secretarias municipais e estaduais da educação, bem como a vereadores, deputados e senadores, na esperança de que esse fechamento de escolas para surdos e sua descaracterização como meras escolas comuns possam ser revertidos. Precisamos fazer com que nossas políticas públicas de educação passem a respeitar as necessidades especiais e as especificidades dos processos de aprendizagem das nossas crianças.
Agradeço a sua gentil atenção.
Abraços,
Fernando Capovilla


Avaliação escolar e políticas públicas de Educação para os alunos não ouvintes
Fernando C. Capovilla

Instituto de Psicologia, USP, Coordenador Pandesb filiado ao Observatório da Educação Inep-Capes

O aperfeiçoamento de políticas públicas em Educação depende da avaliação de seus efeitos sobre o desenvolvimento acadêmico e o rendimento escolar. Apesar de vir publicando relatórios bienais sobre o rendimento do alunado brasileiro desde 1995 no Saeb e, depois, na Prova Brasil, o Inep tem excluído a avaliação sistemática da Educação Especial, deixando a criança com deficiência à margem do processo e de seus benefícios. A Educação de Surdos não foge à regra: nunca foi avaliada qualquer escola para surdos, nem avaliado qualquer aluno surdo assim identificado em regime de inclusão.

A ausência de caselas identificadoras de presença de deficiência e de seu tipo no Saeb e na Prova Brasil impede a constituição de base de dados sobre rendimento, inviabilizando a avaliação sistemática dos resultados de políticas que têm tido forte impacto sobre as vidas das crianças, como a de desativação de escolas específicas para surdos e a dispersão desses alunos em escolas comuns, quase nunca preparadas para inclusão ou mainstreaming eficaz.

Para ajuizar o efeito dessas políticas, o Programa de Avaliação Nacional do Desenvolvimento Escolar do Surdo Brasileiro (Pandesb) foi inaugurado na USP em 1999 com apoio de CNPq, Capes e Seesp, e encampado pelo Inep via Observatório da Educação em 2006. Na década 1999-2009, o Pandesb gerou bateria de 15 testes para mapear desenvolvimento de competências cognitivas e linguísticas cruciais ao rendimento escolar do surdo, e avaliou sistematicamente, durante 18 horas por aluno, mais de 8.000 surdos de 15 estados, de 1a. série do Ensino Fundamental até o Ensino Superior.

O Pandesb produziu os parâmetros basais de desenvolvimento normal para cada série escolar numa série de competências como leitura alfabética (Capovilla & Capovilla, 2006; Capovilla, Capovilla, Mazza, Ameni, & Neves, 2006; Capovilla, Capovilla, Viggiano, Mauricio, Bidá, 2005; Capovilla & Mazza, 2008; Capovilla, Mazza, Ameni, Neves, & Capovilla, 2006; Capovilla & Raphael,
2004a, 2005b), leitura de textos (Capovilla & Raphael, 2005a), escrita alfabética (Capovilla & Ameni, 2008), leitura orofacial (Capovilla, Sousa-Sousa, Ameni, & Neves, 2008), e compreensão de sinais de Libras (Capovilla, Capovilla, Viggiano, & Bidá, 2004; Capovilla & Raphael, 2004b), e analisou sistematicamente a variação desses parâmetros como função das políticas.

Analisando os parâmetros como função da interação entre variáveis do educando, como grau (profunda, severa, moderada, leve) e idade de perda auditiva (pré-lingual, perilingual, pós-lingual) e variáveis do sistema de ensino, como tipo de escola (específica para surdos versus comum) e língua-veículo de ensino-aprendizagem (Libras e Português versus Português apenas), o Panbesb descobriu que a política de inclusão, embora benéfica ao deficiente auditivo, é nociva ao surdo, e que este se desenvolve mais e melhor em escolas específicas para surdos no caldo de cultura de Libras, e sob ensino e acompanhamento de professores proficientes em Libras, como veículo principal de ensino-aprendizagem do Português e de outras disciplinas.

Tal achado decorre da diferença crucial entre alunos surdos (cuja língua materna é Libras) e com eficiência auditiva (cuja língua materna é Português), e é ainda mais relevante quando se sabe que a quase totalidade dos alunos das escolas que vêm sendo desativadas é de alunos surdos, e não deficientes auditivos, pois que estes já vinham sendo incluídos normalmente, dada sua maior facilidade de alfabetizar-se e incluir-se por leitura orofacial e leitura-escrita alfabéticas. A desativação das escolas para surdos é desserviço, já que a criança surda aprende mais e melhor nelas.

Uma década de Pandesb revelou que o melhor modelo de Educação de Surdos consiste na articulação, em contra-turno, entre educação principal ministrada em Libras e Português escrito na escola específica para surdos (em presença de colegas surdos e sob professor fluente em Libras) e educação complementar sob inclusão na escola comum. Mais detalhes em Capovilla (2008).


Referências

Capovilla, F. C. (2008). Principais achados e implicações do maior programa do mundo em avaliação do desenvolvimento de competências linguísticas de surdos. Em: A. L. Sennyey, F. Capovilla, & J. Montiel (Orgs.), Transtornos de aprendizagem. São Paulo, SP: Artes Médicas, pp. 151-164.
Capovilla, F., & Ameni, R. (2008). Compreendendo fenômenos de pensamento, leitura e escrita à mão livre no surdo. Em: A. Sennyey, F. Capovilla, & J. Montiel (Orgs.), Transtornos de aprendizagem. São Paulo, SP: Artes Médicas, pp. 195-206.
Capovilla, F., & Capovilla, A. (2006). Leitura de estudantes surdos: desenvolvimento e peculiaridades em relação à de ouvintes. Educação Temática Digital, 7(2), 217-227.
Capovilla, F., Capovilla, A., Mazza, C., Ameni, R., & Neves, M. (2006). Quando alunos surdos escolhem palavras escritas para nomear figuras: Paralexias ortográficas, semânticas e quirêmicas. Revista Brasileira de Educação Especial, 12, 203-220.
Capovilla, F., Capovilla, A., Viggiano, K., & Bidá, M. (2004). Avaliando compreensão de sinais da Libras em escolares surdos do ensino fundamental. Interação, 8(2), 159-169.
Capovilla, F., Capovilla, A., Viggiano, K., Mauricio, A. C., & Bidá, M. (2005). Processos logográficos, alfabéticos e lexicais na leitura silenciosa por surdos e ouvintes. Estudos de Psicologia, 10(1),15-23.
Capovilla, F., & Mazza, C. (2008). Nomeação de sinais da Libras por escolha de palavras: paragrafias quirêmicas, semânticas e ortográficas por surdos do Ensino Fundamental ao Ensino Superior. Em: A. Sennyey, F. Capovilla, & J. Montiel (Orgs.), Transtornos de aprendizagem. São Paulo, SP: Artes Médicas, pp. 179-194.
Capovilla, F., Mazza, C. Z., Ameni, R., Neves, M., & Capovilla, A. (2006). Quando surdos nomeiam figuras: Processos quirêmicos, semânticos e ortográficos. Perspectiva, 24, 153-175.
Capovilla, F., & Raphael, W. (2004a). Enciclopédia da Libras, Vol. 1: Sinais de Educação; e como avaliar competência de leitura. São Paulo, SP: Edusp.
Capovilla, F., & Raphael, W. (2004b). Enciclopédia da Libras, Vol. 2: Sinais de Artes e cultura, esportes e lazer; e como avaliar compreensão de sinais. São Paulo, SP: Edusp.
Capovilla, F., & Raphael, W. (2005a). Enciclopédia da Libras, Vol. 3: Sinais de Vida em família, relações familiares e casa; e como avaliar compreensão de leitura de sentenças. São Paulo, SP: Edusp.
Capovilla, F., & Raphael, W. (2005b). Enciclopédia da Libras, Vol. 4: Comunicação, eventos e religião; e como avaliar nomeação de figuras. São Paulo, SP: Edusp.
Capovilla, F., Sousa-Sousa, C., Ameni, R., & Neves, M. (2008). Avaliando a habilidade de leitura orofacial em surdos do ensino fundamental. Em: A. Sennyey, F. Capovilla, & J. Montiel (Orgs.), Transtornos de aprendizagem. São Paulo, SP: Artes Médicas, pp. 207-220.
Apoio: Inep, Capes, CNPq.